A aniversariante

Decidi não falar da partida, do sofrimento que é não tê-la aqui, não quero passar tristeza com essas palavras, somente amor.

Parei pra pensar que tenho sorte em ter vindo do seu ventre, com teus traços e sua força. Quando me lembro de você, sempre lhe vejo sorrindo, com uma espécie de gratidão nos olhos, tons quentes e afetuosos, mãos macias e unhas sempre perfeitas, apesar da rotina pesada de trabalho. Sempre foi um ser extremamente determinado, mas sempre muito certas com as coisas. Mesmo sendo carinhosa sempre nos estimulava a independência pra que ficássemos fortes pro mundo. Ainda sim, era o pilar de tudo, o elo que nos entrelaçava apertado. Como eu gostaria que você pudesse sentar comigo numa tarde dessas, com um café fresco na mesa e falar sobre a vida, sobre sonhos, coisas que com meus 12 anos me lembro de fazer com você. Hoje, provavelmente se você estivesse aqui, eu estaria já morando sozinha, talvez até em outra cidade. Mas seria muito bom voltar pra casa, sentir aquele perfume enjoativo que você amava, ouvindo aquele cd do Falamansa, ou algo sertanejo antigo. Escutar você reclamar do trabalho, ou do meu pai com aquele "tonzinho" de implicância conjugal, falar que eu preciso me cuidar mais e que preciso me alimentar direito, cantar a música "pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou" bem desafinado. Ao invés de falar como você partiu, eu queria poder falar em como você viveu. Você fechou um ciclo, até nisso foi mestre na organização, nasceu no dia 6 de março e faleceu no dia 5 de março, nos deu a honra de fazer parte deste ciclo, sua existência será lembrada por muitos que foram marcados nessa estrada por tua bondade e carisma. No dia 06 de março de 2009, querida mãe, você se tornou eterna, foi pra onde tinha sol, tinha luz. Parece clichê falar da mãe, mas ver uma pessoa enfrentar uma doença cruel como o câncer, sorrindo e com uma paz interior tão grande, que a dor física parecia não existir, só consigo admirar e te amar para sempre. Sou grata por nossas almas terem se cruzado da forma mais genuína que se pode.

Em memória de Maria Catarina da Silva Tavares.