Querida eu tenho um violão
E é nele que as vezes eu ressuscito
Descendo devagar o tom
Fechando a janela, a cara e a porta.
Tempestades mentais
Nevoeiros da sabotagem
Nessas águas minhas
Que quase nunca transbordam.
Em épocas distintas
Curavam-se crises com uma caneta e papel
Depois com melodias
Hoje eu só preciso descansar.
Olhos pros lados e vejo terras de um eu baldio
Minhas mãos atadas no meu alcance
Respirando o ar parado da nostalgia presa
Quase voltando.
São esses dias traiçoeiros
Pegajosos e pesados
Que me afogam de olhos fechados
Água parada, nas retinas, não vão há lugar nenhum.
Já vivi nesse labirinto
Sempre soube voltar pra casa
Mas tenho medo de dessa vez
Naufragar de vez e me esquecer.
Mas eu tenho um violão
E é nele que ressuscito
Ecoando devagar e denso
Delicadamente até florir.
Nina Karina